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Universidade e inovação

Tema: Universidade e inovação

Veículo: Diário da Manhã

Número: 10.916

Página: 24

Caderno: Opinião Pública

Data: 04/09/2017

Universidade e inovação

A instituição universidade tem longa história, tendo seu primeiro registro no Marrocos, com a Universidade Al-Karaouine, em Fes, datada de 859 d.C. No mundo ocidental, a Universidade de Bolonha, na Itália, é a mais antiga, criada em 1088, inaugurando o modelo adotado até hoje. No Brasil, as discussões ainda não alcançam consenso, estando na disputa a atual Universidade Federal do Amazonas, a Universidade Federal do Paraná, a Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Universidade Federal da Bahia. A discussão se mantém porque alternam entre os primeiros cursos superiores, a primeira faculdade e a primeira universidade legitimada oficialmente. A depender do critério, mudamos a primeira posição. Distante dessa discussão, a questão que se levanta é como uma instituição centenária, que se afastou da sociedade por longos anos, poderia ser fonte de inovação.

Pensamentos como concentrar a elite intelectual da sociedade, e mesmo vincular somente a extensão à comunidade, deixando a pesquisa e o ensino distantes dessa relação social, são exemplos de como a universidade se posicionou socialmente, criando um fosso entre sua atuação, voltadas para a produção intelectual, e sua vinculação social. Não por outro motivo, a extensão é a perna fraca da tríade institucional, em quantidade e relevância de atividades e de mobilização de docentes, técnicos e discentes.

Esse fosso criado pelas universidades fez com que sua articulação com mercado seja, atualmente, um desejo e uma dificuldade. Desejo, porque a articulação pode garantir recursos para pesquisas e a inovação para o mercado. Dificuldade, porque poucos centros de pesquisa em universidades possuem capacidade técnica e desejo intelectual de desenvolver tecnologias e transferi-las para o mercado. Enquanto países como Estados Unidos e Japão possuem maior número de patentes vindas de empresas (nos EUA a média é de 85% do total), no Brasil, a maior quantidade de pedidos de patentes vem de Institutos de Ensino e Pesquisa e Governo (em 2016 foram 77%, segundo o INPI - Instituto Nacional da Propriedade Industrial.

A forte interação entre universidades e empresas nos Estados Unidos faz com que o ecossistema de inovação tenha na universidade seu principal trunfo. No Brasil, a ideologia de que a universidade deve produzir artigos, pontuando mais para o professor, indica uma baixa motivação para as intervenções sociais e de mercado, com baixa produção de produtos e processos inovadores e, consequentemente, baixa transferência de tecnologia. Isso retroalimenta a baixa performance brasileira, responsável por apenas 0,2% da produção de patentes no mundo, segundo a base de dados estatísticos da OMPI - Organização Mundial da Propriedade Intelectual -, de maio de 2016. O Brasil inteiro produz menos inovação que empresas como a coreana Samsung Electronics. A empresa, líder de inovação no mundo e braço da Samsung, produz dez vezes mais que o Brasil.

Na abordagem da tríplice hélice, que define que a dinâmica da inovação sustentável, o papel da universidade, em articulação com o governo e a iniciativa privada, torna-se fundamental. A universidade, aqui, não está interessada apenas em produzir textos e expedir diplomas, mas fundamentalmente contribuir para o desenvolvimento social - e não na manutenção de sua base cultural. Inovação incremental, radical e disruptiva formam a base da pesquisa, do ensino e da extensão, esta última responsável pela transferência tecnológica para o mercado. O impacto social das atividades universitárias torna-se, nesse modelo, de grande relevância, com ganhos para todas as áreas. Dentro das universidades, os projetos de pesquisa com essa relevância conseguem financiamento privado, mantendo laboratórios em constante atualização, o que per si repercute em ensino atualizado e formação capaz de fazer avançar não só o estado-da-arte da pesquisa, mas a sociedade como um todo.

A universidade do século XXI, nessa abordagem, está disposta a contribuir efetivamente para o desenvolvimento da sociedade em que se insere, apresentando soluções para a melhoria da qualidade de vida e da performance de seus mercados, mesmo quando sua preocupação esteja centrada na sustentabilidade e sociabilidade. O modelo brasileiro de universidade, com seus professores pesquisadores preocupados com seus currículos, da baixa inserção da pesquisa em empresas e da baixa valorização da inovação em currículos, apenas amplia o já grande fosso que separa o Brasil do desenvolvimento. Mais ainda, impede que o ecossistema baseado na tríplice hélice seja implementado em terras tupiniquins, fazendo força para a perda de competitividade do país, que já foi a sexta maior economia do planeta.

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