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A Matemática e o Mundo

Tema: A Matemática e o mundo

Veículo: Diário da Manhã

Número: 10.965

Página: 19

Caderno: Opinião Pública

Data: 23/10/2017

A Matemática e o mundo

Tema da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, uma mobilização nacional proposta pelo MCTIC - Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações -, a Matemática, tida como maior das ciências, enche o peito e brada seu lugar ao Sol, na movimentada sociedade contemporânea. Oficialmente, a SNCT ocupa os dias 23 a 29 de outubro, propondo discussões, em uma concorrida série de eventos, sobre a presença quase que onipresente da Matemática em todas as áreas sociais, de conhecimento e produtivas.

Devemos à matemática o princípio de organização social, na mensuração de normalidades que vão desde os elementos fisiológicos humanos, como batimentos cardíacos e contagem dos elementos presentes em nosso sangue e fluídos corporais, até a regularização social de medidas, como metro, grama e litro. Na economia, a Matemática é o meio usado para valoração de moedas e variações de mercado. Nas artes, a Matemática estabelece medidas, define cânones morfológicos e padrões baseados na antropometria. Na música, é decisiva para gerenciar o tempo, estabelecendo medidas que criam ritmos, gêneros e cadências melódicas. Na arquitetura, é a Matemática que organiza os espaços, alcançando não apenas o equilíbrio formal, mas interações entre cheios e vazios volumétricos, de matriz estética. Na culinária, define a precisão das porções e tempos de preparo e, na nutrição, estabelece as medidas ideais de consumo e variedade, para termos nossos corpos bem nutridos. E nesse exercício seguiríamos, passando por todas as áreas de conhecimento e atuação, enxergando o fundamento matemático no reconhecimento do espaço e do tempo, se houvesse, de fato, tal necessidade.

A Matemática, mãe das ciências, tem relevância incomum, embora enfrente um desgaste grande, passando despercebida, a tal ponto que mereça, ou até requeira, uma semana para si. E é fácil perceber tal necessidade: se a primeira metade do século XX promoveu o auge da Matemática, de lá para cá sua popularidade nunca mais figurou com o destaque merecido. Os grandes avanços que matemáticos alcançaram, particularmente na primeira metade do século XX, formam um legado que mudou a dinâmica do mundo. Não apenas na Matemática pura, mas especialmente na aplicada. Devemos a ela a invenção dos computadores, brilhantemente desenvolvida pelo matemático Alan Turing; da Teoria da Informação e Comunicação, desenvolvida pelo igualmente matemático Claude Shannon; pelo início das estéticas de linhagem objetivista com a Estética Racional, de Georges David Birkhoff, matemático estadunidense; e ainda pela cibernética, criada pelo matemático Norbert Wiener, apenas para citar alguns.

Mas já na segunda metade do século XX a Matemática passa de expoente social para a condição de disciplina pouco bem-vista. O resultado é um desinteresse grande pela formação, alcançando baixos índices de procura nos exames vestibulares e afins dos últimos anos - não perde apenas pelas carreiras docentes, que inverte a lógica de concorrência, tendo mais vagas concorrendo aos poucos interessados.

De modo geral, a Matemática e as demais ciências perderam não apenas o interesse pela formação - alguns cursos tiveram concorrência de 0,1 por vaga, ou seja, 10 vagas por candidato, na UFG, em 2017 -, mas a perspectiva de vínculo com a profundas mudanças sociais. Frente à desastrosa perspectiva, a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia busca resgatar o interesse pela formação científica, com a Matemática sendo o foco deste ano, que é o primeiro ano do Biênio da Matemática no Brasil, país que recebeu, em 2017, a Olimpíada Internacional da Matemática IMO 2017 e sediará, no próximo ano, o Congresso Internacional de Matemáticos ICM 2018.

Ainda que a Matemática esteja, de fato, em tudo, protagonizando meios e modos da vida individual e social, ainda é preciso bradar essa relevância, porque nossos números, infelizmente, colocam seu futuro na incerteza de uma incógnita.

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