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Consciência da diversidade: um país chamado Brasil

Tema: Consciência da diversidade: um país chamado Brasil

Veículo: Diário da Manhã

Número: 10.993

Página: 19

Caderno: Opinião Pública

Data: 20/11/2017

Consciência da diversidade: um país chamado Brasil

"Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar". A frase, uma armadilha provocativa de Nelson Rodrigues, é um convite à diversidade. E se todos concordarem com ele, bem… a frase será verdadeira, ainda que evidencie uma unanimidade burra.

A diversidade biológica, ideológica, metodológica, epistemológica, cultural etc, enriquece e complexifica o mundo, amplia repertórios e faz avançar a sociedade e o planeta. É na e pela diversidade que o planeta segue seu curso, em uma harmonia distante da singeleza do pensamento de muitos que querem calar vozes que diferem de seu pensamento, em atos de censura ideológica. A diversidade dos reinos da biologia, a complexidade da física, da química, da arte, da vida, como um todo, estabelece como padrão normativo o complexo diverso. Em um contexto evolucionista, o surgimento de novas espécies e a extinção de outras é apenas natural, visto que as condições naturais de vida no planeta são dinâmicas.

As variantes epistemológicas - teorias do conhecimento - criam tensões que fazem avançar o conhecimento. O apaziguamento nessa área representaria a estagnação do conhecimento humano, algo absolutamente nefasto. Nas linguagens, as variações semânticas - que alguns nominam equivocamente de ressignificação - são constantes, inclusive no surgimento de palavras, os neologismos. Do outro lado, os arcaísmos, palavras que caem em desuso, línguas inteiras, chamadas línguas mortas (diz-se assim quando não há comunidades linguísticas fazendo uso corrente dessa língua) são tão verdadeiras quanto normais.

Nas ciências e nas artes, as tensões alimentam a busca pelo adensamento, pelo aprofundamento e pela discussão, fazendo rodar a roda da criatividade, da inventividade e da inovação. Teorias e leis científicas, estilos e estéticas artísticas, a diversidade representa um pulsar do conhecimento e da sensibilidade humanos. Negar a diversidade indica negar os estados de pulsação do mundo.

A beleza da diversidade religiosa, artística, política, social, sexual, metodológica, biológica, enfim, de toda a diversidade, reside nas tensões e harmonias. Tensões, se observados os indivíduos, universo micro, harmonia, se observado o contexto macro. A diversidade humana indica uma fortaleza para sua permanência no planeta. As várias crenças, cores, interesses, modos de vida, resistências e resiliências proporcionam uma sociedade tão complexa quanto a própria humanidade.

Se todos fossem médicos, se todos gostassem de amarelo, se todos preferissem matemática, se todos fossem loiros, se todos alcançassem a unanimidade, seríamos fracos, simples e, seguramente, vivendo aos moldes do período medievo ou anterior. A evolução depende da existência da diversidade.

Ao comemorarmos o Dia Nacional da Consciência Negra, homenagem a Zumbi dos Palmares, um escravo que foi líder do Quilombo dos Palmares e que morreu em 20 de novembro de 1695, devemos lembrar que a diversidade é a teia da vida. O 20 de novembro não é dia do negro comemorar, mas de toda a sociedade comemorar a existência do negro, braço forte na construção de uma nação rica exatamente pela diversidade. O Brasil é negro, pardo, branco, amarelo, vermelho, o Brasil é de toda cor. E nossa consciência, negra, parda, branca, amarela, vermelha, é de que na diversidade somos ricos e complexos.

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