Link Coluna 04-12 - Tiros Pela Culatra

Tiros pela culatra: a popularidade pela negação

Tema: Tiros pela culatra: a popularidade pela negação

Veículo: Diário da Manhã

Número: 11.007

Página: 19

Caderno: Opinião Pública

Data: 04/12/2017

Tiros pela culatra: a popularidade pela negação

Ainda causa estranheza o fato de determinadas personagens e eventos alcançarem enorme popularidade, tendo como motor justamente pessoas que reagem negativamente a eles. Parece mais um caso de insensatez que de ignorância, embora ambas possam conviver harmoniosamente. Do ponto de vista estritamente técnico, a replicação e comentários de posts, em redes sociais, considerados pelos comentadores como algo a se evitar, é responsável pelo crescimento da popularidade do que se pretendia negar.

A sociedade reproduz uma característica que se vê na política: ao invés de discutirmos soluções, apontamos os problemas, normalmente personificados em alguém ou alguma coisa. O desejo de expurgar um indivíduo e suas falácias cria um frenesi sobre ele, fazendo-o galgar postos de popularidade. E já que isso é desejado por muitos, o pretenso expurgado figurará mais e mais nos noticiosos, que buscam na popularidade e buzz o incremento de pageviews e consequente monetização e visibilidade de seus meios. Em outros termos, justamente quem nega é quem mais ajuda tais figuras a alcançar os postos de visualização e popularidade desejados. A máxima “falem mal, mas falem de mim” está mais evidente que nunca e, quem fala mal, mais ajuda que atrapalha.

Foi assim que personagens do meio político e artístico construíram sua fama nacional. Foi assim que ações informais de repúdio ganharam destaque, não alcançando o pretendido e, ainda por cima, conquistando adeptos quando se buscavam críticos. Lembro-me de palestras de pouca repercussão ganharem destaque por grupos opositores conquistarem buzz para a sua divulgação. E não faltam curiosos, mais para disseminar balbúrdia que pela discussão, além de maledicentes, que creem que podem ganhar popularidade com seus comentários torpes, muitas vezes mentirosos ou injuriosos.

Talvez a solução seja muito simples: o maior ato de repúdio a uma notícia ou personagem, nas redes sociais, é retirar o post de sua timeline. Não concorda com alguém ou alguma coisa? Delete, mas não comente nem replique, muito menos aporte emojis, mesmo os que demonstrem irritação. Se o alimento desses indesejados são as visualizações, que morram por inanição. Se for imprescindível comentar, faça-o inbox, apenas para o emissor do post, logo depois de eliminar o post de sua timeline.

Talvez devamos lembrar que posts que não são visualizados não têm força. Ao invés de comentar sua indignação no post, elevando seu buzz, melhor será fazer um post com mensagem afirmativa de seu posicionamento, fazendo valer sua proposta, sem tornar o pensamento contrário um top trend das redes sociais. Os perfis pessoais em redes sociais não são canais abertos à discussão, não há qualquer problema em eliminar marcações, desfazer pretensos vínculos de amizade e, mesmo, bloquear pessoas que não coadunam com sua perspectiva de vida. Se Freud discutia a pulsão para a morte, aparentemente o fenômeno se repete nas redes sociais: quanto pior, mais popularidade alcança. Sejamos críticos o suficiente para exercitar a autoestima: se não gosto, se não concordo, ignoro, não permitindo que figure em minha timeline ou histórico. Sem tiro pela culatra.

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