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Ética, moral e tecnologia

Tema: Ética, moral e tecnologia

Veículo: Diário da Manhã

Número: 11.061

Página: 19

Caderno: Opinião Pública

Data: 29/01/2018

Ética, moral e tecnologia

Que o problema de corrupção é traço cultural e não somente político no Brasil, não parece haver dúvidas. É notório o comportamento do brasileiro, considerando apelos próprios dos corruptos, ativo e passivo, no cotidiano nacional. Desde a compra e venda de voto até a auferição de benefícios próprios mediante o trabalho que deveria ser cotidiano, brasileiros se deparam com situações de corrupção em todos os lugares e instâncias. De modo mais acentuado em órgãos públicos, inclusive, mas não só, na tentativa de agilizar a morosa e absurdamente máquina pública, nas intermináveis tramitações processuais. Processos, que deveriam ser finalizados em dois dias, levam por vezes um ano para percorrerem os trâmites.

Parte desses percursos se deve aos fluxos e normas quase irracionais que uns criam, e todos devem obedecer. Uma micro empresa individual, por exemplo, tem de afixar uma placa de identificação no exterior do estabelecimento, mesmo que o serviço seja ofertado exclusivamente pela internet, e que o endereço seja de uma residência em um condomínio fechado. Mais ainda, a placa serve tão somente para uma vistoria, pois o empresário pode retirá-la após a vistoria - inclusive é orientado a isso. Nos processos do Detran, o uso de despachantes tornou-se, certa época, quase que obrigatório, já que o cidadão comum não pagava suborno aos funcionários e, por esse motivo, seus processos permaneciam parados. De igual modo, eram comuns os pagamentos a policiais para não emitirem multas ou fazerem vistas grossas a crimes. Em alguns casos, ainda temos tais práticas.

De outro lado, a população que, sempre que pode, tenta tirar proveito da situação, aumentando tarifas de seus serviços quando estes são urgentes - em grandes festas, é impossível conseguir táxis e afins por preços de tabela, seja em Goiânia, Rio de Janeiro ou Salvador. Milhares de pessoas ainda buscam em políticos a oportunidade de ganhos de emprego, dentadura, exames médicos e tantas outras “ofertas”, em troca de seu voto. Outros tantos oferecem um dinheirinho para o café ou cerveja - entenda propina - para serem melhores atendidos.

O tal jeitinho brasileiro se confunde com uma prática danosa que todos reclamam, mas que boa parte da população pratica. E se assim o é, a tecnologia auxilia a eliminação disso, ao retirar o controle de processos, cobranças e prazos das mãos das pessoas. Se ao chamar um serviço de táxi o cliente souber quanto vai pagar, certamente o motorista não tentaria dar voltas extras pela cidade, buscando percursos maiores para levar vantagem no preço final. Se os prazos de tramitação de processos forem fixados e observados por sistemas tecnológicos, teríamos, por certo, uma drástica redução de processos que tramitam mais rápido que outros, ou que simplesmente não tramitam. Se retirarmos das mãos humanas os processos que podem ser automatizados, gerando visibilidade para sua tramitação, certamente conseguiríamos minimizar os desmandos tidos em todos os setores, extirpando algumas práticas corruptas de nossa sociedade.

A tecnologia, nesse aspecto, auxilia a dinamizar os trâmites, dar transparência aos processos e reduzir intervenções que privilegiam alguns em detrimento de outros. E se a justiça é cega, a tecnologia legitimamente não enxerga seus usuários, tampouco solicitam ajuda para café ou cerveja, tratando como iguais os números que, afinal, compõem seus códigos de realização de tarefa. Esse é mais um motivo para que a inserção de tecnologia nos mais variados âmbitos sociais seja não apenas de interesse público, mas também de interesse cultural, na regulação de processos e comportamentos que hoje, e no passado, são baseados em condutas morais e éticas condenáveis.

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