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Cadê a comoção nacional?

Tema: Cadê a comoção nacional?

Veículo: Diário da Manhã

Número: 11.131

Página: 19

Caderno: Opinião Pública

Data: 09/04/2018

Cadê a comoção nacional?

 

Não importa muito o que comove a população, mas o fato de haver seleção nesse processo faz tocar o alarme em muitos, que não tardam para incendiar as redes sociais com posts de agravo. Se há comoção por uma criança, vários se queixam por não haver comoção por outra criança. Se há comoção pela morte de alguém, vários outros alguéns são lembrados, não somente por seus feitos, mas por os considerarem merecedores de comoção. Se algum político é investigado, milhares de posts questionam a razão de outros não serem, igualmente, investigados ou  punidos por seus atos. Se considerarmos a exigência das redes, ou jamais poderemos nos comover, ou ficaremos em eterno estado de comoção, trocando o objeto várias vezes ao dia.

A queixa de muitos, nesse contexto, passa mais por crivos políticos e ideológicos que humanitários. A solicitação de comoção por outros ou outras se volta menos pela sensibilidade do ato que comoveu e mais pela indignação de não haver equivalência de comoção com os vários casos equivalentes. Em resumo, as redes sociais cobram a sensibilização, motivada por um inconformismo, ao mesmo tempo em que não se deixam sensibilizar.

O tom egocêntrico e por vezes autoritário que emerge das redes sociais evidencia o inconformismo de sermos diferentes, com posições, vivências e crenças distintas. De igual modo, a ausência de diálogos e discussões minimamente civilizadas é ponto bastante evidente. O poder de argumentação sucumbe-se aos ataques, xingamentos e rebaixamentos. O exercício de insensibilização é praticado incessantemente nas redes. A gritaria geral cria oposições acirradas, promovendo rotas de colisão, não exatamente de pensamentos, deixados de lado ou inexistentes, mas de personas que disputam, no grito, a imposição de seu modo de ver o mundo.

Em vários casos, deixamos a perspectiva de construção de uma inteligência coletiva para promovermos um  cyber histerismo coletivo, fundado na visão estreita e torta de quem quer se impor, usando não argumentos, mas um vasto vocabulário de impropérios. As perguntas ou chamadas que requerem comoção ou mobilização são, prioritariamente, impositivas e pouco sensíveis a um fator chave: o livre arbítrio. As pessoas têm liberdade para erguerem suas bandeiras, serem sensíveis a um fato em detrimento a outro, deixarem-se impactar por uma situação e não por outras. A aceitação dessa condição é fundamental para um ambiente instrutivo e inteligente.

Diante de quadros desalentadores de discussões sem projetos, que se estendem na já próxima fase eleitoral do país, resta-nos saber como sensibilizar as pessoas, em meio a um inconformismo enredado aparentemente típico das redes sociais, convertendo-as em contribuidores de discussões de um projeto para o Brasil. Será preciso, para melhorar nossa realidade, uma comoção voltada para o bem comum que ultrapasse o pensamento egocêntrico, manipulador e inconformista.

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