Link Coluna 28-05 - Tecnologia e emprego

Tecnologia e emprego

Tema: Tecnologia e emprego

Veículo: Diário da Manhã

Número: 11.181

Página: 19

Caderno: Opinião Pública

Data: 28/05/2018

Tecnologia e emprego

O impacto da tecnologia no mercado é, sempre, motivo de vários debates e tentativas de acertos, desde a academia até o próprio mercado.  Se o objeto de discussão for o emprego, mais aquecidas são as discussões e as posições tendem a se mostrarem opostas, em vários aspectos. O temor de perda de emprego pelo avanço da tecnologia é um fato, embora seja igualmente fato o lugar comum do medo, que pode tornar uma discussão um pouco mais assustadora do que deveria efetivamente ser.

Se, culturalmente, já somos levados a temer a tecnologia, que para alguns apocalípticos destruirá a humanidade, não soa tão estranho que haja listas de empregos que tendem a desaparecer em muito breve. A automação certamente eliminará vários postos de trabalho em todos os países. O Fórum Mundial prevê uma redução de 7,1 milhões de empregos, entre 2015 e 2020, em todo o mundo, principalmente em funções relacionadas a áreas administrativas e industriais. No Brasil, a consultoria McKinsey afirma que cerca de 15,7 milhões de trabalhadores serão afetados pela automação até 2030.

O que várias pesquisas efetivamente não quantificam são quantos novos postos de trabalho e novas profissões devem ser criados com a tecnologia. Em Israel fala-se em 5 novas vagas de emprego para cada vaga preenchida da área de tecnologia. São pessoas que darão suporte a esses profissionais, cuidando de várias etapas e processos. De fato, se observarmos os últimos cem anos, teremos a certeza de que a inserção tecnológica, pela indústria, fez crescer o número de empregos. Façamos um breve exercício: há 100 anos, em 1.918, a conformação do trabalho no Brasil, e consequentemente de empregos, era basicamente rural, com baixa empregabilidade nos setores que, hoje, são os maiores ofertantes de vagas. Naquele tempo, com o início da industrialização, havia poucas vagas na indústria, com maior número de vagas  no comércio e serviços. A informalidade ditava as regras em um país que dava os primeiros passos para a industrialização, com poucas cidades grandes e população maciçamente vivendo em áreas rurais.

Se conseguíssemos fazer o exercício contrário, pensando no ano de 2.118, provavelmente teríamos uma população um pouco menor que o que temos atualmente - o IBGE prospecta que o Brasil atingirá o ápice demográfico em 2042, com redução populacional a partir de 2043 - e com grande mudança de de empregos e profissões. Certamente as máquinas precisarão ser projetadas, mantidas e consertadas. Certamente a cultura e sua produção simbólica manterá seu grau de valor, no que a área de economia criativa tenderá a crescer. Certamente as funções relacionadas à inventividade e à criatividade, mais humanas que as atividades que exigem força, serão ainda áreas da empregabilidade humana. Na ponta oposta, funções que processadores desempenham com mais eficiência tendem a ser eliminadas.

Há uma probabilidade muito grande que robôs e cobôs (robôs que dividem as atividades com o trabalhador) ocupem vários espaços profissionais. Os cobôs (cobots ou co-bots, de robôs colaborativos) devem dividir as atividades humanas, como um processador de texto hoje já aponta e corrige textos, ou um computador de bordo auxilia pilotos e motoristas em suas tarefas. A integração, e não substituição, é um caminho mais sensato para o futuro que inventamos.

As faixas etárias também tenderão a definir atividades profissionais. Se o mundo envelhece, os empregos já dão sinal de envelhecimento ou início tardio. Há alguns anos, os casamentos eram feitos, em maior parte, com casais de menos de 20 anos de idade. Atualmente, a faixa etária de noivos está um pouco mais velha, como ocorre, igualmente, com a saída dos filhos das casas dos pais e do início da vida laboral.

O mundo do trabalho se mantém tão dinâmico e inventivo como sempre o foi, com um gosto especial pela mudança e pela inovação, como ocorre em nosso tempo. Preocupar-se com a relação tecnologia e emprego, como se um eliminasse o outro, é esquecer que as demandas tecnológicas cumprem uma função específica de bem estar social. Mais que isso, a tecnologia é uma invenção humana, tal qual o futuro, que inventamos a cada dia.

Com certeza teremos uma mudança drástica nas condições de emprego para os próximos anos, vinculada à tecnologia e à automação. E isso é tão certo quanto a de que nós, humanos, inventamos o futuro e saberemos dosar bem essa relação de emprego e sobrevivência. A economia é uma ótima ferramenta para isso: se não houver empregos, não haverá renda, fato que eliminará mercados e sepultará os avanços tecnológicos, que precisam de mercado para permanecerem.

Mas antes de se acomodar na relação ecossistêmica entre tecnologia e emprego, será preciso entender que nossa sociedade é um modelo criado pela Ciência e mantida pela tecnologia. Com isso, o avanço é um pedágio necessário, na via que nos conduz ao futuro. Negligenciá-lo significa retroceder. Isso significa que novas profissões surgirão, novas habilidades e competências já sinalizam para o que há de vir. Se taxistas e motoristas de aplicativos encontraram seus nichos no mercado, saindo das páginas policiais dos sites, é imperativo que se abra espaço para o novo, para as novas realidades que estamos construindo.

O futuro não eliminará empregos. Eliminará profissões, como é natural desde todos os tempos. E as compensará com novas profissões, surgidas com a tecnologia e com a automação, com a própria evolução histórico-social. E disso não há de se ter medo e sim preparo. Estamos criando, a cada dia, novos cursos e capacitações, em ritmo de educação continuada. Pesquisas apontam para novas profissões, para um novo mercado, para novas práticas sociais. O mundo, seja o do trabalho ou o todo, não para.

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