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Inversões e contradições: a sociedade e o governo

 

Tema: Inversões e contradições: a sociedade e o governo

Veículo: Diário da Manhã

Número: 11.209

Página: 17

Caderno: Opinião Pública

Data: 25/06/2018

Inversões e contradições: a sociedade e o governo

O abusivo aumento de impostos (e dos combustíveis, gás de cozinha,...), a impunidade dos corruptos e a manutenção de regalias de governantes a juízes asseveram uma condição  preocupante de um Brasil cansado e quase entregue. E se o brasileiro corre para nichos que deveriam manter a honestidade como um pilar, encontra religiosos ávidos em propagar ideias conservadoras, sempre mediante doações que garantem uma vida plena e abençoada.

Na democracia, o governo deveria ser representante do povo, com a missão de organizar a própria sociedade, visando ao seu desenvolvimento. Para tal, lança mão dos poderes executivo, legislativo e judiciário, cujos deveres, articulados, se vinculam à ordem e ao progresso. Na prática, porém, estamos conseguindo inverter essa ordem: os governos se mostram sanguessugas da sociedade, confabulando meios e modos de injetar substâncias de dormência, enquanto mantêm suas práticas danosas, atuando para o declínio e a involução social. 

Os ataques aos cofres públicos, às leis e à ética são mascarados com discursos conservadores e moralistas, baseados em factoides que (des)orientam a opinião pública, deflagrando posições cada vez menos urbanas e civilizadas, desviantes do que de fato deveria importar. Enquanto alijam a ciência e a tecnologia (que transformaram países como Israel e a cidade-Estado da República de Singapura), cortam verbas da Educação e da Saúde, entregam as obrigações públicas aos interesses privados e nossas cidades às milícias e criminosos, o país discute, via redes sociais, um processo eleitoral que pouco deve alterar no cenário da democracia brasileira. Isso quando o assunto da vez não é o carnaval ou o futebol.  

Não há discussão sobre as reformas que deveriam estruturar o país. Não há projetos ou propostas em discussão, dos velhos partidos de novos nomes, cheios de velhos nomes. A reforma política, a previdenciária e a tributária perdem espaço para gols, apoios partidários e as trapalhadas governamentais em um país colapsando.

Enquanto a Europa proíbe veículos poluentes em suas cidades, o brasileiro tem dificuldades em adquirir carro elétrico, visto que temos de bancar o cofre federal do propinoduto e seus filhotes, os cartéis dos combustíveis espalhados pelo Brasil. Baixa o preço do diesel, triplica dos demais combustíveis, além de acrescentar uma carga nos preços de tudo. Enquanto a inflação oficial possui um único dígito, as taxas e impostos refletem aumento real de 3 dígitos em vários casos. A contrapartida social, a devolução do que é pago em impostos, continua sendo a ineficiência, a morosidade e o cabide de empregos para os chegados. São rodovias pedagiadas, normalmente após uma boa reforma paga pelos cofres públicos; são a segurança, a saúde e a educação achatadas e o direito constitucional privatizado, sem que nada disso implique na redução de impostos.

O brasileiro aprendeu rápido a olhar o que é apontado, sem enxergar o que realmente está presente no ato de quem aponta. Seus antolhos, tais quais postam em equinos, reduzem sua visão, direcionando-os para onde suas rédeas os fazem seguir. E seguimos como diz os versos de Cecília Meireles: "como o boi, que vai com inocência para a morte".

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