Coluna A lógica das redes

A Lógica nas redes

Tema: A Lógica nas redes

 

Data: 23/07/2018

A Lógica nas redes

Era comum, em tempos escolares, os alunos se depararem com situações, no mínimo, esdrúxulas: o professor de matemática ensina que não podemos juntar maçãs com bananas, uma metáfora para a solução de problemas relacionadas a equações, com valores para as incógnitas X e Y. Já em Português, o professor gostava de solicitar comparações entre o livro e o filme, extraindo uma qualificação que, via de regra, buscava elevar a produção literária frente à produção cinematográfica. A ação, iconoclasta, contradiz o célebre ditado de que uma imagem vale mais que mil palavras.

Em tempos de conectividade, em que a sociabilidade é praticada em redes sociais, evidencia-se a contradição, talvez elevada a potência n, para manter a relação com a matemática. Os discursos, verbais e visuais, operam em várias frentes, normalmente fragmentadas e simplórias, como estratégia de persuasão e controle de opiniões. E que, de fato, conseguem lastreio e buzz nas redes, graças à conivência de uns e à má fé de outros tantos.

Comparações simplistas com formalismos lógicos atestam, aos coniventes por opção e aos aproveitadores por conveniência, que o pensamento lógico ainda carece de formação em terras tupiniquins. Os princípios de causalidade, por exemplo, parecem não existir no universo forjado pelos posts em redes sociais. Outro dia vi uma postagem que sugeria a legalização da laqueadura e da vasectomia, para os que não queriam filho, ao invés da legalização do aborto. Certamente o autor desconhece que laqueadura e vasectomia são legalizadas, e que a matéria do aborto se vincula a casos específicos, como estupro, má formação do feto e riscos na gravidez - riscos elevados que causam morte, é bom que fique claro.

Comparações de cunho político são a bola da vez, com previsível ascendência nos próximos meses, vencida a etapa futebolística. As comparações e análises sobre gênero, raça, religião e das nossas mazelas do judiciário e do legislativo servem de pano de fundo para a busca veemente de curtidas e compartilhamento, atestando a conquista ideológica e, mais que isso, a demarcação de território, da democracia de que tudo pode, desde que eu concorde.

Será preciso, para uma visada mais atenta, relembrar a lógica como fundamento do pensamento ou lógica formal, e a comparação e análise como métodos da lógica material. Nos posts, a presunção de verdade supera o pensamento lógico, por partirem de premissas nem sempre verdadeiras, ou por chegaram a conclusões falazes. Esses estratagemas são comuns, quer sejam explorados pelo pensamento lógico indutivo, quer sejam pelo pensamento lógico dedutivo. Apontar um erro de alguém e generalizar, dizendo que o erro é a pessoa e não seu ato, tem uma orientação lógica indutiva, mas não configura verdade. De outro lado, dizer que uma classe de pessoas é errada e, por alguém pertencer a essa classe, ela necessariamente não poder estar certa, cumpre um quesito do pensamento lógico dedutivo, embora a aplicação seja absolutamente contestável.

Entre silogismos e sofismas, os argumentos padecem, nas redes sociais, de estruturação lógica e, mais ainda, de boa fé de seus usuários. As prerrogativas tendenciosas nas estruturações de argumentos e do modelo de declarar verdades atestam, em um primeiro momento, a incipiência argumentativa de quem as elaboraram. De outro lado, mais preocupante ainda, evidencia a ausência de criticidade e pensamento lógico de quem curte e compartilha tais posts.

No que diz respeito aos métodos, as comparações despropositadas e ardilosas buscam, em premissas incorretas, conclusões igualmente incorretas, mas que seguem um argumento lógico. Princípios da indução desmantelam a cadeia de raciocínio, notadamente pela generalização a partir de um dado particular. Para o bom combate, nesses casos, será preciso que o leitor atente para os elementos declarados, considerando a verdade das premissas, além do argumento. Para a comparação, é preciso que o elemento comparado seja um igual em dois, o que dificulta a realização em meio social, de modo genérico. É a dificuldade de educadores mensurarem a evolução de seus alunos, a partir da mesma régua de avaliação atribuída a sujeitos diferentes. A solução é mensurar o processo ensino-aprendizagem, e não o aluno.

A análise, que é a técnica de decomposição de uma substância, tópico ou argumento, não deve ser confundida com valoração, como muitos fazem. Atribuir um adjetivo a algo não é analisar. Várias afirmações, que se querem passar, nas redes sociais, por análises, encontram terreno fértil para suas plantas daninhas. A análise cuida da decomposição de uma substância em seus elementos constituintes, sem medida de valor, como uma análise sintática ou morfológica não indica se a afirmação é verdadeira ou é falsa. A análise é método que conduz a uma possível compreensão, não é a compreensão.

A lógica das redes, entretanto, é a lógica da mídia, que é meio, canal que serve para a passagem de água que limpa que irriga a vida, mas não se nega a passagem do esgoto. E isso é um pensamento lógico, de estruturação indutiva.

 

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