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Tecnologia na/da educação

Tema: Tecnologia na/da educação

Veículo: Diário da Manhã 

Número: 11.258

Página: 19

Caderno: Opinião Pública

Data: 13/08/2018

Tecnologia na/da educação

A área da Educação tem assistido e protagonizado uma mudança brusca em seu modus operandi: de um lado, viu a Educação a Distância mudar o rumo do ensino superior no Brasil, com milhares de alunos enxergando na modalidade uma alternativa viável para sua formação, atrelado a uma exploração de mercado que cresce exponencialmente. Do outro lado, a área resiste bravamente à implementação de tecnologias do processo ensino-aprendizagem, com um discurso que destoa da prática. Em meio a tudo isso, uma indústria ávida por vender dispositivos tecnológicos e ganhar cada vez mais alunos mina a área, com a oferta de soluções para problemas inexistentes que apenas frustra educandos e educadores.

Enquanto o embate entre discurso e prática se consolida na educação, perdemos a possibilidade de avançar e pautar discussões prementes para a raquítica educação brasileira. Em pesquisa realizada pela consultoria britânica Economist Intelligence Unit (EIU), o Brasil ficou em penúltima colocação entre 40 países. Em terras de brasa, o índice IRDEB é alarmante, embora tenhamos nos acostumados com médias de reprovação, estampadas nas entradas das escolas e nas secretarias de Educação. Discutir o processo ensino-aprendizagem parece estar obsoleto, já que a cultura educacional, baseada em um modelo copista, não encontra melhor método para copiar, e tampouco possui criticidade, bom senso e competência para buscar soluções para seus próprios problemas. Antes de desatar o nó em que nos encontramos, é mais cômodo imputar culpa ou nos agarrar às tais soluções mágicas de distribuir computadores, colocar uma lousa interativa em sala ou colocar uma câmera para identificar os alunos que chegam ou saem da escola.

As noções mais modernas de educação apontam para algumas questões-chave, que por si mudariam a perspectiva da aprendizagem. Essas discussões passam ao largo, infelizmente, dos temas debatidos pela área, em seus congressos e similares. Vejamos alguns pontos de interesse.

Não se aprende para fazer, na concepção ultrapassada de que a escola prepara para a vida, ainda que profissional. A escola é vida, e aprendemos fazendo, alterando a realidade que nos circunda. Os estágios são uma pequena amostra de como a inserção no universo produtivo, ao longo da formação, resulta em melhoria de qualidade. Enquanto algumas instituições querem trazer o aluno para suas salas, outras querem mostrar o mundo aos alunos, buscando resolver problemas reais, como ocorre em várias instituições estrangeiras que provocam seus alunos em ações humanitárias e sociais.  

Sala de aula é um conceito, não é um local. Esse pensamento implica, embora não haja sinonímia, com a escola peripatética de Aristóteles. Se na Grécia o método incluía caminhar, a moderna noção de sala de aula implica em entender que todo lugar é passível de ser espaço de aprendizagem. Mais que trazer o aluno para a escola, a opção de levar o aluno ao mundo tem se mostrado mais eficaz, com melhor envolvimento do aprendiz em seu próprio aprendizado.

A cidade é um grande laboratório. Se nos anos 1990 as escolas correram para ter seus laboratórios, para pouco depois não saberem muito bem o que fazer com eles, hoje sabemos que a cidade é um grande laboratório, capaz de prover a estrutura e recursos pedagógicos para várias atividades.

O professor não está no controle, jamais, de fato, esteve. O presenteísmo em sala de aula é um problema que se desdobra, culminando na evasão escolar. A falta de sentido não apenas do que é ensinado, mas do modo como o é, é preocupante. A distância que os conteúdos programáticos estabelecem com o mundo do aluno parece ser similar à distância que a escola estabelece com a comunidade, com a sociedade. A revisão dessa realidade é premente.

O uso de dispositivos tecnológicos deve se coadunar com práticas de ensino-aprendizagem que privilegiam as habilidades e competências, tendo o mundo como perspectiva de atuação. Antes de discutir que dispositivo tecnológico usar em sala, será preciso discutir, com a criticidade necessária, que tipo de escola queremos. Trata-se, portanto, de discutir tecnologias educacionais.

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