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Temporalidades e a complexidade de nossos tempos

Tema: Temporalidades e a complexidade de nossos tempos

Veículo: Diário da Manhã

Número: 11.341

Página: 27

Caderno: Opinião Pública

Data: 05/11/2018

O tempo já teve um deus, já foi considerado um elemento absoluto relativizado pela subjetividade e é uma dimensão mensurável do mundo natural. Objeto de pesquisa de filósofos, artistas e físicos, o tempo é elemento da computação, do cinema, da literatura e de tantas outras manifestações culturais, em todas as culturas, de todos os tempos. Cronológico, diegético ou psicológico, o tempo estabelece nossa relação com o presente e com as experiências social, subjetiva e estética. Suas repercussões somam a idade do universo e de quem o contempla.

Na Grécia, Chronos (khrónos) referia-se ao tempo cronológico, sequencial  e mensurável, por vezes confundido com o titã Cronos,  deus do tempo e filho de Urano e Gaia. Herdamos, na língua portuguesa, palavras que derivam do radical e de sua relação semântica, como em cronômetro e cronologia, além do lastro de sermos, quase sempre, devedores do tempo. Na Física, o tempo é determinante para a velocidade, inclusive a da luz, tida em Einstein como absoluto. A relação dimensional do espaço-tempo é o substrato para as teorias do surgimento do mundo, havendo pesquisas que buscam, no Cosmos, os sons e luzes do passado que se reportam à criação do Universo. Na Filosofia, o tempo foi objeto em Heidegger e Sartre, que como vários outros pensadores, ganharam seu tempo - e a eternidade - discutindo as temporalidades. Nas narrativas, o tempo diegético se desprende do cronológico, transportando, pela imaginação, a noção de continuidade para a descontinuidade, em hiatos e zeugmas temporais, flashbacks e avanços, alternando passados, futuros e presentes, em espaços como a ilha do dia anterior, ou mesmo em futuros que voltamos, sondando memórias quase apagadas pela névoa do tempo.

De resto, nossa percepção temporal, subjetiva, torna o cronológico elástico, como naqueles momentos que se prolongam até a eternidade, ou naqueles dias que teimam em correr e, quando nos damos conta, já estamos no fim do ano. Na computação, o tempo real, como se houvesse outro, diz da simultaneidade do processamento, como quase ocorre com as transmissões ao vivo, ainda que o delay seja normalizado, como é o tempo mínimo que o corpo leva para atender às determinações cinéticas ditadas pelo cérebro.

De um modo ou outro, nosso tempo já é percebido fragmentado, acelerado, em ações e pensamentos, comportamentos e processamentos. Nossa simbiose com máquinas nos faz pensar diferente, descontinuamente, em exercícios de vinculações sintagmáticas e paradigmáticas, típicas das sinapses, caracterizadas pela neuroplasticidade há pouco descoberta. Somos, ao percebermos o mundo e o tempo, digitais.

Nossa relação temporal é de urgência e emergência. Urgência, pela aceleração fruto da tecnologia, que dobra sua capacidade de processamento a cada dois anos (ou menos), e de emergência, pelas formas emergentes de comunicação e de experiência social, mediadas pela tecnologia, que ganham ares de inteligência, seja coletiva, em aparelhos ou cidades, via conectividade.

As dobras no espaço-tempo, tidas em buracos negros e buracos de minhoca (Wormholes) já são fato nos links do hipertexto, mas intervenções tecnológicas do tempo real e em mentes criativas que exercitam o tempo subjetivo, na contemporaneidade de um tempo fragmentado, ditado e mantido pelo tempo cronológico, quer seja ele diegético, diacrônico ou sincrônico. Temporalidades de um tempo complexo.

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