Link Coluna De condicionais e condicionantes

De condicionais e condicionantes

O famigerado SE implica uma condicional, um pensamento construído a partir de uma condição hipotética. Esse tipo de pensamento é típico de pessoas inventivas, sonhadoras, e também de pessoas que temem enfrentar determinadas restrições ou realidades. Não deixa de ser, em determinado sentido, uma fuga, uma tentativa de criar uma condição ainda não existente para justificar escolhas ou comportamentos.

Em um outro momento, temos os fatores condicionantes, elementos que constituem condições específicas para que algo seja realizado. Os fatores condicionantes podem ser identificados em restrições e possibilidades observadas para se levar a cabo um projeto. Sua observação considera planos realistas, capazes de orientar métodos e projetos, além de cronogramas e afins. Os fatores condicionantes determinam a exequibilidade de uma ação ou projeto.

Ocorre que algumas pessoas preferem usar seu tempo em conjecturas derivadas de condicionais a usá-lo perscrutando  as condicionantes. O exercício primeiro, ótimo para escritores e para a manutenção do raciocínio lógico, pode não ter, em uma lógica pragmática, muita contribuição quando se busca resolver um problema. Ainda, nesse sentido, é notória a vinculação do uso de condicionais ao tempo pretérito, nas expressões clássicas de "e se tivesse sido ...", enquanto que os fatores condicionantes auxiliam na previsão e prevenção, logo, estruturando situações futuras: o prazo é condição de realização da tarefa, tanto quanto o orçamento e a disponibilidade de recursos humanos.

O uso de ambas as perspectivas mostra bastante eficácia e produtividade, na exata medida em que são usadas em suas especificidades. Quando, contudo, são confundidas, o resultado pode ser um sem fim de hipotéticas situações infundadas, um mergulho em mar profundo de conjecturas, e um adiar constante das realizações, que demandam a objetividade consoante do mundo, e não a desvairada inventividade dos medrosos e dos apaixonados.

O enfrentamento, em contextos pessoais, sociais e profissionais estará mais próximo do êxito quando as premissas condicionantes forem objetivadas e forem tomadas como medidas de projeto. De igual modo e no sentido inverso, as condicionais podem, de modo mais facilitado, se vincularem aos indecisos e arrependidos, quando suas qualidades não foram utilizadas. A frustração poderá ser adiada ou cancelada quando os fatores condicionantes forem conhecidos e mensurados. Já as condicionais, quando tratadas objetivamente, podem ser convertidas nos fatores condicionantes, organizando rotas de escape e alternativas viáveis.

Os processos inovativos partem das possibilidades, em condicionais inventivas, prospectando futuros possíveis, e tornadas condicionantes quando os SEs se tornam restrições e possibilidades. E é na trilha das condicionais, como exercício de concepção e invenção do futuro, que as condicionantes se realinham, ora eliminadas, ora tratadas como obstáculos que devem ser vencidos. A inovação, nessa abordagem, situa-se entre o conceber boas condicionais e prospectá-las a partir da objetividade das condicionantes. Mas, claro, isso não é uma condição.

Categorias: Artigos #artigos Últimos Artigos