Coluna Mix de linguagens na Internet

Mix de linguagens na Internet

Tema: Mix de linguagens na Internet

Veículo: Diário da Manhã

Número: 11.451

Página: 21

Caderno: Opinião Pública

Data: 04/03/2019

De quando em quando, uma discussão sobre uma linguagem própria da internet emerge, quase sempre com posicionamentos recriminadores em relação a contrações, mixagem de matrizes de linguagens, como os emojis acompanhados de elementos verbais e tantas outras formas expressivas que mesclam o visual, o verbal e o sonoro, em uma perspectiva que, por vezes, parece ultrapassar os códigos linguísticos em uso e as línguas naturais.

De fato, adeptos da gramática gerativa, aquela que advoga que a língua é um elemento vivo e sofre atualização constante, contrasta com um posicionamento dos defensores da gramática normativa, afeita aos princípios que normalizam o uso linguístico. Esse contraste não se circunscreve à linguagem verbal, mas a todo o lastro dos objetos das semióticas, em um tensionamento entre a norma e o uso, o litúrgico e o vernacular.

De fato, as variações sígnicas tendem a uma conformação expressiva que busca a melhoria comunicacional, alinhando-se aos meios usuais utilizados para tal fim. Se a Internet se define como uma convergência de linguagens e mídias, não há de se estranhar o uso mixado de elementos de linguagem verbal, visual e sonoro, em um único contexto informacional ou comunicacional. A excelência no uso dessa signagem, modo específico de uso da linguagem, é mais uma especialidade que um desvio de conduta ou deslize na semiótica aplicada. É mais acerto que erro.

Em outra abordagem, é preciso lembrar que a conectividade alterou indelevelmente a cultura e o comportamento humano. Haveria de a linguagem, traço imaterial caracterizador da civilização, ficar ilesa nesse processo? Certamente que não. As mudanças iniciadas nas redes ganham espaço nas ruas e nas mentes, sendo frequente o uso de determinadas lógicas de comunicação, antes restritas ao contexto da cibercultura, em todos os locais. Ainda que tais signos e sintagmas não frequentem documentos e demais formas de expressão tidas como mais formais,  há de se admitir que, em contextos mais criativos e menos formais, a prática já se torne quase regra.

Contrações, emojis e memes figuram nos trending topics da miscelânea de linguagem, já incorporadas na cultura, principalmente na lógica da propaganda e do marketing, em uma referência a sua atualidade e vinculação com conectividade. Lojas, revistas e serviços se juntam ao contexto geral no uso de marcadores e outros ícones que se tornaram célebres na Internet, e cujos usos há muito extrapolaram o locus digital.

O vértice da linguagem, nos vários contextos de uso, parece desvelar o vórtice em que operam as redes digitais: há, ali, também, uma forte mudança de cultura, sinalizando que o digital, enquanto estrutura de pensamento e expressão, ganha o mundo natural em nossa pragmática da comunicação humana. A orientação gerativa da linguagem, em uma analogia gamificada, poderia gritar vitória sobre a normativa, ao menos em uma partida de revisão diacrônica. o/

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