Coluna - Do primeiro e maior para o mais inteligente

Do primeiro e maior para o mais inteligente

Tema: Do primeiro e maior para o mais inteligente

Veículo: Diário da Manhã

Número: 11.461

Página: 21

Caderno: Opinião Pública

Data: 18/03/2019

Parece já fazer parte do desejo de instituições e pessoas o fato de serem o primeiro ou o maior em um produto ou serviço. Primeiro a oferecer tal serviço, maior estoque e showroom, bradam as ações de marketing e publicidade, como se o feito fosse meritoso qualitativamente, o que nem sempre o é. De fato, ser o primeiro ou o maior não é elemento diferenciador quanto à qualidade ou à eficiência, nem mesmo garantia de permanência. Ser o primeiro indica um provável conhecimento sobre o que se produz ou serve, pelo tempo de mercado, enquanto ser o maior pode indicar uma oferta melhor ou, minimamente, maior repertório de produtos ou serviços. Contudo, essas nominações indicam mais uma posição em ranking que um diferencial qualificador do produto ou serviço, apenas indicado nesse jogo propagandístico de mercado.

O que está em causa, em uma primeira leitura, é o estabelecimento de um ranking, elemento típico de jogo, na disputa pelo mercado. Esse elemento dá indícios do processo de gamificação presente no mercado, ao tempo em que tenta embutir no consumidor o desvio necessário frente à ausência de elemento diferenciador:  se todos são qualitativamente iguais, eu fui o primeiro; se todos são qualitativamente iguais, eu sou o maior. Falta, a esse mercado, o diferencial que poderia distinguir qualitativamente seu produto ou serviço, aos olhos do mercado consumidor.

Ainda assim, o cidadão consumidor se vê desnorteado com informações conflitantes, seja em relação ao maior shopping center do país ou do estado, ou da primeira universidade brasileira, assim como tantas outras informações que buscam qualificar o produto ou serviço a partir da designação primeiro ou maior, como se eles, por si, fossem diferenciais de qualidade. De uma ou outra forma, a tradição de conferência de valor ao primeiro ou maior está incrustada na cultura, desde os textos bíblicos, com a denominação de primogenitura,  até a inserção da tecnologia, como a primeira cidade inteligente, mesmo diante de fatos inquestionáveis, como a primeira rede social, já descontinuada, e a maior empresa de tecnologia, que se alterou nos últimos 30 anos mais de uma vez.

Tais indicativos forçam a quebra da primazia do primeiro ou maior, buscando o valor diferencial no melhor, no mais eficiente e/ou mais acessível, elementos de maior aderência qualitativa, e que geram, efetivamente, um padrão de qualidade e uma disputa de mercado centrada no que realmente importa: o desempenho ou performance do produto ou serviço. De outro modo, a lógica qualitativa desvia o foco da disputa do mais forte, identificado no reino Animalia como o primeiro ou primogênito, e o maior, para o mais eficiente e inteligente, valores que ganham a preferência no contexto contemporâneo da sociedade digital.

Leia o artigo publicado.

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