Coluna 25-03 - O cérebro multitarefa

O cérebro multitarefa

Tema: O cérebro multitarefa

Veículo: Diário da Manhã

Número: 11.467

Página: 21

Caderno: Opinião Pública

Data: 25/03/2019

Já discutimos que nosso cérebro trabalha digitalmente, organizando nossos fazeres em uma lógica igualmente digital. Não apenas o pensamento, mas as atribuições de coordenação do funcionamento de nossos órgãos, a ativação de movimentos, a organização do pensamento, tudo orbita as determinações do cérebro, o que faz lícita e afirmação de que o cérebro é mais inteligente que nós mesmos. Além de multitarefa, o cérebro aproveita os momentos de sono para organizar as informações, em uma espécie de desfragmentação das informações chegadas a ele por nossos órgãos sensórios e pela nossa consciência. Ao organizar, ele seleciona o que é mais urgente, o que tem relevância e o que, provavelmente, tem baixa importância, organizando o conjunto de informações em arquivos específicos, nossa memória.

Ao mesmo tempo em que faz toda essa cadeia de eventos, ele controla nossos batimentos cardíacos, nossa respiração, nossos órgãos digestivos e todas as atividades de nosso corpo. Para não termos um período enfadonho, o cérebro providencia um entretenimento para nossa consciência, a produção onírica, tido por alguns como realização de desejos e por outros como uma premonição do que irá ocorrer. Crendo em Freud ou não, o fato é que sonhamos, enquanto nosso cérebro se esforça para reorganizar corpo e mente, em um exercício ininterrupto, iniciado ainda na vida uterina, com descanso somente com o padecimento do corpo.

Trabalhando antes do corpo, o cérebro vive no futuro. Ainda que por alguns milésimos de segundos, as ações do corpo e da mente apenas ocorrem depois que o cérebro as processa. O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis afirma que o cérebro trabalha no futuro, evidenciando em pesquisas científicas esse fato. E o fato é que o cérebro humano é imbatível, não apenas por sua característica plásticas, a chamada neuroplasticidade, e sua atividades multitarefa, mas essencialmente por trabalhar inteligentemente na organização de todas as atividades e, simultaneamente, organizar as informações em conjuntos mnemônicos, de acordo com sua relevância, ao tempo em que refaz células perdidas ou desgastadas pelas ações da vida.

Ao criarmos dispositivos que auxiliam nosso corpo, incluindo o cérebro, ele mesmo define sua medida necessária, dando razão às pesquisas que apontam uma redução de tamanho da massa encefálica humana, mesmo sendo mais inteligentes agora que antes. De certo modo, revemos o imaginário criado, que propunha um extraterrestre de cabeça grande, simbolizando a grandeza do cérebro e sua proporcionalidade com a inteligência. A realidade humana destoa dessa lógica. O cérebro humano não é o maior do reino Animalia, embora o seja  proporcionalmente. Mas temos admitido que economia é um princípio da inteligência, inclusive mediante a melhora de performance cerebral com a redução de seu tamanho. Assemelha-se, grosso modo, com a redução dos computadores, que não implica em redução do poder do processamento, mas o inverso disso: temos tido computadores menores e com melhores performances de processamento. Nesse quesito, parece que caminhamos com a mesma lógica dos equipamentos computacionais e o desenvolvimento de nosso cérebro.

Com tantos adjetivos e substantivos, não é possível ter posição distinta daquela que já sabemos: nosso cérebro é mais inteligente que nós mesmos, e que nossa consciência, além de frequentar o futuro, um tempo sempre à frente de nossa consciência e de nosso corpo próprio.

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