Coluna 08-04 - Vamos mudar o mundo

Vamos mudar o mundo

Tema: Vamos mudar o mundo

Veículo: Diário da Manhã

Número: 11.477

Página: 17

Caderno: Opinião Pública

Data: 08/04/2019

Qual o tamanho do seu mundo? Até onde sua mão avança? Até onde suas pernas te levam? Até onde a vista alcança e sua voz se faz ouvir? O mundo não é exatamente o planeta, tampouco o cosmos. A noção de mundo está atrelada à subjetividade e ao alcance de nosso pensamento. Diante dessa definição, qual o tamanho do seu mundo?

A simples existência, se é que é simples, já provoca uma mudança no mundo, estabelecendo novas relações e gerando impacto. Todavia, a existência não define a alteração necessária que o mundo requer. É preciso um esforço maior. E um esforço que não seja de criar expectativa de que o outro faça a diferença que depende de cada um de nós.

O mundo jamais esteve parado, estando em constante e contínua mudança. O processo de aceleração que o humano provocou, tendo por base o desenvolvimento tecnológico, cria uma condição de participação e compartilhamento inédito, como cada dia é inédito em nossas vidas.

A tecnologia é o espelho contemporâneo do humano, não se opondo a ele, antes criando uma pertença e um amálgama, de tal modo que não é possível dizer que o artificial não seja extremamente humano, como a inteligência artificial é essencialmente humana. A distinção entre humano e tecnologia é um exercício de insensatez, como é insensatez culpar a tecnologia por desmandos que são executados pelo humano, ainda que usando a tecnologia.

No lastro da insensatez, está a espera do futuro, como se ele existisse e caminhasse ao nosso encontro. “A diferença entre passado, presente e futuro é uma ilusão, ainda que persistente”, escreveu Einstein, evidenciando a relatividade do tempo. O futuro é uma invenção que criamos para termos expectativa. Como a noção de mudança, como se ela não ocorresse todo o tempo, o tempo todo.

E qual a nossa contribuição para esse movimento geral de mundos? O nosso mundo está impactando quais mundos?  Certos estavam alguns povos andinos, que diziam que o futuro está atrás de nós, já que não o vemos. E que o passado, este sim, está à nossa frente, passível de ser visto e analisado, servindo-nos de aprendizado.

Certos estão os jovens, ao entenderem que compartilhar não é dividir, é somar, e exercitam esse compartilhamento de seus mundos, em seus modos, impactando  e implicando toda a sociedade, da qual são peça chave. E o fazem não à luz de ideologias que reduzem a criticidade, reluzem deslumbramentos de falas fáceis, mas à luz do pensamento científico, cravado na tecnologia, encravado no corpo social, e que reflete o ânimo desta geração em realizar suas próprias mudanças, com pia de banheiro, tanque de roupas e tudo o mais.

Tortos estão aqueles que ainda não enxergam isso e, com voz rouca e conservadora, buscam criar o ideal de um passado inexistente, miragem que um povo sedento pelas melhorias prometidas, ainda latentes socialmente, ou no dizer mais tecnológico, virtual. E é ainda virtual porque dissociamos o que é parte de nós de nós mesmos, humanos, seres sociais: a tecnologia em oposição ao humano, o político em oposição ao social, a academia em oposição ao mercado. Tornamo-nos célebres criadores de uma despersonalização social e personificamos abstrações, imputando a elas o medo que cultivamos de assumir, nós mesmos, o mundo que criamos, de nos vermos no espelho que produzimos.

Qual a sua perspectiva para o seu mundo? O que cada um de nós estamos fazendo para cumprir essa perspectiva, para alcançar o mundo mudado que inventamos como futuro? Que movimento estamos fazendo para converter o futuro, de trás, para um passado em nossa frente, que nos orgulhe pessoal e socialmente?

Em recente visita à Colômbia, fui lembrado que, em 2014, em um curso ministrado para o doutorado em Design, eu havia dito que era preciso mudar o mundo, com a força e a confiança de quem tem condições de fazer isso. E essa lembrança renovou minha vontade de continuar mudando o meu mundo, seja na prática do ensino, no trabalho profissional, ou no lastro político social como administrador público, seja no dia a dia, nos contatos com os amigos, alunos, colegas, família. O mundo não é o mesmo que era ontem, tampouco será o mesmo de hoje, amanhã. E a maior mudança quem pode provocar somos nós, senhores do tempo, do espaço e de nós mesmos, inventores do espaço-tempo conceitual, existencial e epistemológico, que muda o mundo nos giros que convertem a ilusão a um fato, o futuro a um passado, produzindo nossos rastros, nosso legado para a eternidade.

Leia a coluna publicada.

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