Modelos energéticos - capa

Sobre modelos energéticos e alternativas brasileiras

Tema: Sobre modelos energéticos e as alternativas brasileiras.
Veículo: Diário da Manhã
Número: 10.783
Página: 17
Caderno: Opinião Pública
Data: 24/04/2017

 

Sobre modelos energéticos e as alternativas brasileiras

A energia elétrica normalmente só é notada quando falta e quando a conta chega. Produto tecnológico essencial para o modo de vida e a cultura contemporânea, a energia e seus modelos de geração são temas recorrentes nos setores produtivos, principalmente na indústria, na  política e nas questões ambientais.

Se a energia elétrica se torna solução para a vida contemporânea, suas fontes, modos de produção e distribuição são preocupações constantes pelas falhas e pelo custo, inclusive ambiental. As falhas geram prejuízos enormes, seja pela perda de produção, perda de produtos e serviços, e pela necessidade de geração de energia mais cara, por geradores normalmente baseados em energia não renovável. Hospitais, por exemplo, são espaços que dependem da energia elétrica para a manutenção de alguns serviços e, em alguns casos, pela vida de alguns pacientes. A cidade se converte em caos quando os semáforos se calam por falta de energia. Prédios, residências e escolas sofrem quando a energia se esvai. A vida contemporânea, mesmo rural, depende de energia para se manter.

O custo, todavia, não para de aumentar, seja para o bolso dos usuários, seja para o meio ambiente. Os acidentes radioativos de Chernobyl, na Rússia, em 1986, e em Fukushima, no Japão, em 2011, alertaram o mundo sobre a necessidade de se repensar as fontes de energia, tendo como orientação as energias limpas, renováveis e de baixo custo. Os modelos de produção baseados em fonte hidrelétrica, geotérmica, eólica e solar são vedetes, podendo, no último caso, tornar-se uma revolução pela variação de escala. Embora os demais modelos possam, efetivamente, variar também em escala, a energia solar se mostra mais factível, pela fonte inesgotável de matéria prima e pelo modelo que se ajustam à necessidade e capacidade de instalação.

O modelo de hidrelétrica é o mais comum no Brasil, dada a abundância de rios. Limpa, renovável e relativamente barata, essa energia tem seu custo elevado em função da distribuição, comum a todas as outras fontes, além do alto custo de implantação. O crescimento do país, e consequente demanda por energia, não consegue ser acompanhado pelo incremento da produção. A ausência de políticas públicas voltadas para a exploração de novas fontes de energia e implementação de novos modelos no setor, é problema grave, que resulta em apagões, como o ocorrido em 16 de outubro de 2016.

Para se ter uma ideia do descaso brasileiro com energia, enquanto boa parte do mundo aposta em redução de poluentes no ar e renovação de frota de automóveis com subsídio para carros elétricos, o Brasil perde o bonde e se move em sentido contrário, com sobrecarga de impostos que dificultam a vinda desses carros para terras brasileiras. O uso de combustível fóssil, sujo e não renovável, é a orientação ditada para o brasileiro. De modo similar, com muito vento e sol disponíveis no país, os modelos eólico e solar avançam preguiçosamente, dando preferência para construções de usinas hidrelétricas, como a de Belo Monte que, apesar de fonte de energia limpa, carrega a mácula da corrupção, além de questionamentos ambientais da área inundada para sua represa.

Outro modelo energético apontado como eficiente  é a microgeração, já exercitada com geradores residenciais, embora a nova roupagem seja limpa e renovável. A produção de energia em indústrias e residências equilibra a produção e o custo, além de racionalizar o consumo. A energia solar tem sido a maior responsável pelo modelo, e a instalação do conjunto gerador e demais sistemas acessórios têm, em média, seis anos para anular o investimento inicial. A microgeração de energia é uma alternativa promissora, quando se pensa em uma produção colaborativa e efetiva, com custos distribuídos e maior envolvimento do público, que passa a ser produtor e  consumidor.

Energia baseada em movimento cinético tende a ser usual em performances e educação, como ocorre com o projeto Cine Pedal, que esteve recentemente em Goiânia, mas é pouco eficiente quando se pensa em demandas constantes.

A despeito de oscilações nas bandeiras que elevam mais ou menos as tarifas de energia no Brasil, a grande e necessária bandeira deveria ser a de políticas e ações voltadas para a melhoria da produção, distribuição e qualidade da energia produzida no Brasil, privilegiando a energia limpa e renovável, alcançando o consumo.

Quando nossas casas e cidades demandam maior consumo de energia para suprir as necessidades diárias, a resposta de todos, inclusive do poder público, deveria ser de buscar alternativas viáveis e eficientes para evitar os apagões, altos custos e o modelo baseado em energia suja e não renovável.  A produção e consumo energéticos dependem de nossa energia para abraçar a causa, gerando o calor necessário para suprir demandas, com a premência e eficiência que queremos para um país melhor. A esperança, boa, vem com projetos como a inédita usina de biogás, que será instalada no sul de Minas Gerais, e que gerará energia a partir do lixo, utilizando tecnologia brasileira de gaseificação, diferente da incineração. E a cidade não poderia ter nome mais apropriado: Boa Esperança!

 

 

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