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Necessidades humanas e o bem-estar nas cidades

Tema: Necessidades humanas e bem-estar nas cidades.
Veículo: Diário da Manhã
Número: 10.805
Página: 18
Caderno: Opinião Pública
Data: 16/05/2017

 

 

Necessidades humanas e o bem-estar nas cidades

O psicólogo estadunidense Abraham H. Maslow desenvolveu um conceito que determina as condições necessárias para o ser humano atingir sua satisfação pessoal. Para Maslow, existem necessidades básicas e elementares para a sobrevivência, que detêm o nível de prioridade, indo a níveis menos determinantes para a vida, mais vinculados à satisfação e bem-estar. Há, para o psicólogo, uma hierarquia dessas necessidades, que partem das necessidades fisiológicas, passando pelas necessidades de segurança, sociais, status ou estima e finalmente, no topo, as necessidades de autorrealização.

O diagrama desse conceito ficou conhecido como Pirâmide de Maslow, que organiza em cinco níveis as necessidades humanas, em um processo hierarquizado. O avanço da base dessa pirâmide para o topo depende da satisfação das necessidades de cada nível.

O primeiro nível diz das necessidades fisiológicas, como o alimento, a água, a respiração, a excreção e o abrigo. São as necessidades básicas para a manutenção da vida.  Prover essas necessidades é primordial e, sem esse provimento, nenhum outro fará sentido, visto que a ausência deles coloca a vida em risco.

Nas cidades, as ações de atendimento à saúde encontram-se neste nível, além de ações humanitárias e de assistência social, provendo ao cidadão as condições de sobrevivência.

O segundo nível, das necessidades com segurança, indica uma relação entre o lastro da vida e o lastro psicológico. Ter segurança na cidade, nas casas e até na saúde, com os planos de saúde, por exemplo, estão nesse nível. Na cidade, o conceito de segurança pública se alinha a esse nível, embora ele diga respeito a todo tipo de segurança - alimentar, individual, de trânsito etc.

O terceiro nível, das necessidades sociais, se vincula ao lastro de pertencimento social, de grupos, como família, amizade e amor. Nas cidades, o pertencimento à cidade é exemplo, bem como os grupamentos de bairros, religiosos e comunitários. Espaços públicos destinados a esse quesito, como parques para as famílias, praças para grupos culturais e esportivos e mesmo escolas, fazem parte deste grupamento.

O quarto nível, as necessidades de status ou estima, indica a satisfação pessoal com o reconhecimento das suas capacidades por outras pessoas ou grupos. É a auto-estima, a capacidade de uma pessoa em se orgulhar de si mesma pelos seus feitos a partir do reconhecimento conquistado, bem como o reconhecimento dos feitos dos outros. Estão nesse nível as questões específicas de poder, orgulho e reconhecimento, dentre outros. Nas cidades, dar motivo ao cidadão de orgulhar-se de morar ali é o melhor exemplo. Melhoria das condições urbanas, elaboração de lugares e serviços diferenciados, que resultem em autoestima para o cidadão.

No último nível, topo da pirâmide, estão as necessidades de autorrealização,  compostas pela independência, a exercício pleno de suas capacidades, controle de suas ações, a possibilidade de fazer o que se gosta, com satisfação. Nas cidades, o pleno exercício da cidadania é o melhor dos exemplos. Conhecer seus direitos, ter atendimento satisfatório e eficiente do poder público, poder usufruir dos bens e serviços públicos em sua completude compõem esse nível.

Maslow considera uma hierarquia dos níveis de necessidades, de modo que para passar para o segundo nível a pessoa terá que ter suas necessidades de primeiro nível completa ou parcialmente atendidas, indo na sequência até o topo da pirâmide, quando suas necessidades dos quatro níveis anteriores estiverem atendidas, ainda que parcialmente.

As necessidades cognitivas foram propostas por Maslow após a construção do diagrama da pirâmide, vinculadas à autorrealização: conhecer e compreender o mundo à sua volta e a necessidade de satisfação estética.

As cidades atendem ou buscam atender as necessidades humanas em seus vários níveis. As necessidades de primeiro e segundo níveis são, em grande parte, previstas em nossa Constituição Federal, como garantias do cidadão. As demais necessidades são supridas a partir da implantação de projetos que atentem para estas finalidades. Projetos de automação de processos resultam em melhor acompanhamento, por parte do cidadão, de suas solicitações, gerando bem estar no nível 4, de autoestima, na medida em que gera orgulho de uso de tecnologia e métodos modernos em sua cidade, e no nível 5, que estimula o controle que ele tem sobre processos, com bons níveis de empoderamento.

De modo geral, os projetos de cidades inteligentes devem contribuir para o atendimento das necessidades de todos os níveis, otimizando todos eles, seja no cadastro e distribuição de cestas básicas para a população carente, no atendimento imediato à saúde, na otimização da segurança pela iluminação pública e policiamento municipal, na criação de ações de pertencimento, em belas áreas públicas que resultem em orgulho de viver naquela cidade. O ideal de projetos é o provimento de todos os níveis de necessidades, inclusive enxergando a diversidade dos munícipes e seus interesses.

Se temas como saúde, educação e segurança são fundamentais para as cidades, não menos importantes, embora em escala menor de prioridade, são os demais temas. Ainda que saúde e alimentação sejam absolutamente prioritários, eles não são, sozinhos, elementos que garantam nossa satisfação pessoal, nossa realização. Pensar na complexidade das necessidades humanas ajuda a pensar, inteligentemente, em projetos para as cidades.

 

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