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O modelo copista e ausência de pensamento

Tema: O modelo copista e a ausência de pensamento

Veículo: Diário da Manhã

Número: 10.895

Página: 19

Caderno: Opinião Pública

Data: 14/08/2017

O modelo copista e a ausência de pensamento

O modelo de aprendizagem pela cópia ou observação é uma constante em nossa civilização. Mais que isso, faz parte de nossa e de várias outras espécies. Os chamados neurônios espelhos cumprem exatamente essa missão: o aprendizado baseado na experiência do outro, por observação. Nesse tipo de aprendizado, observar e copiar cumprem perfeitamente as premissas de aprender pelo outro, com o outro. Se algo faz mal ao outro, provavelmente fará mal a mim, se faz bem ao outro, igualmente poderá me beneficiar.

As crianças aprendem, e muito, por esse método. Animais, empresas e toda a sorte de seres e experiências partem dessa perspectiva para superarem o desgaste de uma experiência própria, tornando o aprendizado algo social.

Todavia, o aprendizado baseado em cópia tomou ares de baixa eficiência quando o copiar se tornou objetivo, e não método. Enquanto artistas e cientistas aprendiam métodos de representação e lógicas físicas e químicas em experimentos copiando seus mestres, assimilando processos lógicos do conhecimento para avançarem, tudo fazia sentido. Quando, contudo, a meta era copiar por copiar, sem perspectiva de ultrapassar o já sabido, tornamos o aprendizado destituído de sentido prático, nem mesmo teórico. Se os animais copiam comportamentos para sobreviverem, humanos parecem copiar apenas para agradar a alguns.

Nos ensinos fundamental e médio, a cópia é um paradigma da aprendizagem. Exercícios de memorização de palavras e frases são constantes, reforçados por avaliações de reproduções de palavras, cópias de pensamentos e ausência de crítica. Mesmo os livros dos professores são distribuídos já com os exercícios resolvidos, de modo a não permitir que professores pensem criticamente, ou corram o risco de errar a matéria que deveriam ser conhecedores. Aos alunos, resta tentar memorizar palavras, no cansativo e enfadonho exercício de preencher espaços em branco, que depende mais da capacidade de memória que de raciocínio lógico. Perdemos a perspectiva de que copiar ajuda como método, não como objetivo.

Já no terceiro grau, a prática do aprendizado baseada na cópia recebe o nome de plágio, com rumores de que seja crime. O mecanismo defendido por vários anos agora é danoso, criminoso. Mas os livros didáticos continuam respondidos nas edições destinadas aos professores. Os textos literários continuam tendo como acompanhamento um encarte comentado, com análises e respostas, para que o profissional apenas copie, replique o que está posto.

O aprendizado baseado na crítica social, no adensamento e na construção da liberdade de pensamento, inclusive interpretativa, parece ser para poucos. Nem mesmo os doutos professores universitários se livram do legado copista. Algumas avaliações nacionais destinadas aos doutores avaliadores de cursos e universidades mantêm a perspectiva de preenchimento de lacunas, sempre com palavras vindas de textos tidos como base. Qualquer sinônimo utilizado, por mais valor semântico ou sintático que acrescente, constitui erro de resposta.  

Talvez o erro não esteja em colocar um sinônimo em uma lacuna de um período. O erro, pelo que podemos verificar, está na premissa de um modelo que é método de aprendizagem, não objetivo. Um modelo que se destina tão somente a atualizar o conhecimento, compreendendo-o, para superá-lo, e não para se fixar nele, como tábua de conhecimento e salvação.

O modelo copista, em que pese seu potencial de avanço, apenas alcança o ponto inicial para poder fazer avançar o estado-da-arte da pesquisa, do potencial individual e humano. O mundo precisa superar o neurônio espelho, para não viver em refletir sua própria imagem, em estágio de fixação eterna. A cópia é um primeiro passo, de alinhamento de onde estamos enquanto sociedade e conhecimento, mas adquirir um estilo próprio de caminhar é a perspectiva do mundo e da construção de um pensamento crítico e construtivo. Avancemos para além da cópia, para além de modelos de aprendizagem superados há séculos.

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